quarta-feira, 31 de março de 2010

Um ano longe da nave mãe

Bom dia pessoal.
Vamos com um post não técnico…

Na semana passada eu completei um ano longe da nave mãe, vulgo Microsoft, estou em minha própria empresa, a Sr. Nimbus, e aproveito para deixar uma pequena retrospectiva e comentários rápidos sobre o que eu ando observando.

Obs: quando eu digo "longe" realmente significa sem ser funcionário da empresa, pois nunca deixei de conversar com meus amigos, trabalhar junto ao MSDN/TechNet e de falar sobre produtos e frameworks que eu tenho um pouco mais de contato.

Já se foi um ano como empresário, instrutor, consultor, estudante, ajudante da comunidade e SQLGeek. Muitas máscaras para um mesmo indivíduo, muito trabalho acompanhado de muito crescimento profissional e, felizmente, tudo mais ou menos dentro das minhas expectativas e planejamento.


O trabalho

Frequentemente me perguntam se eu me arrependo de ter saído da Microsoft, e a resposta é: ainda não deu tempo para arrepender e até agora as coisas estão fluindo relativamente bem.

Hoje eu tenho maior liberdade para atuar em diversas frentes e posso trabalhar como suporte, evangelista, consultor, instrutor, enfim, desfrutar de várias frentes e desafios. Isso é excelente, pois me permite estar acompanhando as novidades e ao mesmo tempo colocando a mão na massa, então trabalho com a combinação ideal (ao meu ver), onde posso trazer vivências para os treinamentos e ensinar os clientes durante uma consultoria através de passagem de conhecimento, sem guardar segredos.

Porém nem sempre tenho acesso aos casos mais desafiadores (apesar se já ter pego algumas boas pedreiras) e aquele antigo costume de trabalhar diariamente com grandes clientes sempre bate à porta, mas uso isso como um incentivo.

Nunca consegui trabalhar poucas horas no meu dia (são 4:59 da manhã e estou com esse post desde 3:45), então seja na Microsoft ou na Sr. Nimbus eu me dedico muito mais do que as 8 horas de regra, as preocupações são diferentes, mas o volume de trabalho é um pouco maior.


O mercado

Esse é um tema polêmico e sim, acho que participamos de um dos mercados mais caóticos e prostituídos, o de TI.

Acho que no fundo todas as empresas procuram evoluir com seus processos e melhorando paulatinamente, mas ainda acho que falta em muitas empresas uma mentalidade de longo prazo e ações concretas para realmente implementarem aquele discurso bonito dos homens engravatados. Por outro lado temos os profissionais, que devem se manter atualizados e procurar serem melhores no que fazem, mas nem sempre é isso que acontece.

Hoje vivemos um cenário onde é necessário economizar e fazer bom uso do dinheiro (como se isso não fosse importante sempre), e mesmo assim fico vendo empresas rasgando dinheiro e não investindo em um de seus bens mais importantes, os funcionários.

A área de TI muda com uma frequência inacreditável e para o profissional se manter atualizado não é fácil, então é necessário que a pessoa se dedique a isso e a empresa também abrace a causa. Mas o que vejo é:

• Muitos funcionários que não se importam com sua evolução técnica e profissional.
• Funcionários que não recebem treinamentos adequados para o papel que desempenham.
• Empresas que optam por gastar o mínimo possível na capacitação dos funcionários, normalmente depois que a tecnologia em questão já foi (mal) empregada.

Faço muitas visitas a clientes e ouço gerentes de TI reclamando da prostituição dos seus funcionários e vice-versa. E acho que nós, talvez uma característica da nação, preferimos reclamar a fazer alguma coisa a respeito.

Vou citar alguns exemplos das atrocidades que vejo por aí:

• Gerente de TI reclama que profissionais recém (ou ainda não) formados estão pedindo salários altos e achando que são especialistas. Verdade, temos muitos moleques arrogantes hoje no mercado que ainda não perceberam o valor da experiência.
○ Mas este se recusa a liberar o funcionário 1/2 período para este fazer um treinamento, que ele próprio está pagando do seu bolso, já que empresa não vai pagar.
• Recebo uma ligação de um potencial cliente reclamando que o consultor atual não está atendendo a altura e não conhece de verdade o SQL Server.
○ Quando faço minha proposta o cliente reclama que o preço está um pouco mais alto do que o consultor que já atua na casa... Fico perplexo. O que ele esperava? Então aproveite o atual.
• Empresa faz seleção para analista júnior de banco de dados e eu estou tomando um café perto de um candidato que comenta "putz, me deu um branco e esqueci o que é join".
○ Eu não me candidataria a algo que eu não estou preparado ou conseguiria me preparar, é diferente planejar, aprender e executar, de simplesmente achar que o jeitinho brasileiro funciona.
○ O candidato que passa na prova diz que seu salário atual é de R$ 15.000 e quando empresa diz que o salário é R$ 4.000 (números fictícios) ele diz: aceito! Algo muito estranho no ar... Melhor mandar o cara embora.
• Já ouvi mais de uma vez: prefiro pagar menos e ter algo 75% do que gastar um pouco mais agora e ter algo próximo de 100%.
○ Pasmem, isso é o que me deixa mais assustado. Vejo clientes perdendo centenas de milhares de reais mensalmente, mas se recusando a investir um pouco mais e resolver o problema. A conta não bate na minha calculadora…

Formou-se um ciclo vicioso, as empresas em busca do lucro (e minimizar o prejuízo de projetos mal feitos) paga bem a um ou dois e fica no resto com uma equipe fraca. Esse profissional quando estuda qualquer coisa (durante uma semana) sai pulando entre empregos (trampolim) para tentar aumentar um pouco o salário. A empresa não vê fidelidade nos funcionários e acaba não investindo, pois eles vão sair de qualquer jeito. E aquele funcionário que quer fazer a coisa direito? Boa sorte...

Acho que temos que corrigir os dois lados e gosto de ver quando existe uma parceria entre empresa e funcionário. Quando ouço um ou outro reclamando eu digo: ou faça a coisa melhorar ou então vá embora. Se sua empresa não investe em você, procure uma que o faça, mas também faça o máximo para corresponder a altura, senão é apenas um idiota pedindo algo que não merece.

Tenho muitos exemplos de cenários tristes que vi nos últimos anos e vou ficar com uma frase que ouvi de um arquiteto da Microsoft "As empresas nunca têm dinheiro para fazer o projeto da maneira certa, mas sempre têm dinheiro para corrigir o que foi feito de errado".


A empresa

Hoje a Sr. Nimbus está engatinhando e iniciando uma jornada que, esperamos, dure longos anos e tenha uma história feliz para contar. E o lado bom de fazer parte disso é que você pode colocar na empresa o que acredita ser certo e moldá-la de acordo com o seu perfil de seus mentores. Não acredito em dinheiro rápido e lucros astronômicos, mas sim em trabalho árduo e dedicação.

Planejamos investimentos pesados em nossos funcionários, com participação em eventos nacionais e internacionais, além de tempo para estudar. Precisamos de um veio capitalista (ou senão falimos, né?), mas queremos que todos tenham uma visão mais aberta, ajudem a comunidade técnica e tenham responsabilidade social. Não é o lucro pelo lucro.

Hoje fazemos algumas trocas que poucas empresas fariam, facilidade de uma startup, mas que vai se manter pois está na cultura da Sr. Tudo isso sempre buscando a excelência no que fazemos e a diferenciação no mercado e, sei que ouvimos isso todo dia e já virou piada, mas temos que fazer melhor.

No fim vamos aos poucos abraçando as tecnologias que nos são familiares e crescendo de forma cadenciada e consolidada. E claro, dentro da empresa cada frente possui seu líder e seus objetivos de curto e longo prazo, e eu sou quem orienta nossas ofertas de SQL Server. Então, enquanto não tivermos os melhores treinamentos e serviços de SQL Server reconhecidos pelo mercado, acho que vou continuar inquieto e acordando de madrugada, para pensar na Sr. Nimbus e em nossas ações.

Utopia? Só o tempo vai nos dizer...

[]s
Luciano Caixeta Moreira - {Luti}
Chief Innovation Officer
Sr. Nimbus Serviços em Tecnologia Ltda
luciano.moreira@srnimbus.com.br
www.twitter.com/luticm

4 comentários:

  1. Luan Moreno M. Maciel31 de março de 2010 às 09:14

    Luti,

    Parabéns pelo post, excelente, não tenho tanta experiêcia em trabahar em várias empresas, mas o que se nota é que a maioria das empresas preferem ter 75% do seu funcionário do que 100%, uma pena porque, quanto temos motivação e incentivo tudo acontece.
    Em relação aos funcionário, vejo uma cultura muito fraca em conhecimento, pessoas querendo pular de emprego à emprego para conseguir ganhar mais do que o anterior, mais pensando bem!!!, dividimos nossa vida basicamente em trabalho e relacionamento (basicamente), quanto mais nos dedicamos mais aprendemos, isso aliado ao tempo nos torna competente para exercer alguma coisa específica, então podemos realizar a seguinte pergunta, quanto tempo da sua vida você vai disperdiça-la em vez de aproveitá-la.
    Aproveitar cada minuto que nos é dado, pois quanto mais tempo você deixa de usar mais você se arrependerá no futuro.

    Em relação à Sr. não tenho dúvida nenhuma que vocês irão para frente, e por causa de uma grande diferencial que vocês teem, sede de conhecimento, paixão pelo que fazem quando temos isso andando de mãos temos exelência de qualidade que é o que a Sr. nimbus nos traz.

    Parabés luti, muito bom o post!!!

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  2. Grande Luti,
    Rapaiz que coisa Linda de ler...
    Fico feliz de saber que daqui a alguns anos (utopia?) existirá um mundo onde pessoas com mentalidade de primeiro mundo estarão trabalhando em uma empresa do Brasil.
    Sucessos abraço.
    Fabiano Amorim

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  3. Luti,

    Fico feliz em ver um empreendedor como voce vencendo e pensando em um mundo melhor para todos. Realmente quem tem o faro empreendedor passa por dificuldades, mas sempre aprende com elas e sabe como corrigir.

    Boa Sorte!
    Alexandre Lopes

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